Nos turbulentos anos 1940, enquanto a Segunda Guerra Mundial assolava o mundo, um grupo de indivíduos e empresas nos Estados Unidos empenhava-se em projetar e aperfeiçoar aeronaves de asa rotativa. Entre eles, a Sikorsky Aircraft, com sede em Bridgeport, Connecticut, tornou-se famosa ao liderar esse movimento com seu protótipo VS-300, que fez seu primeiro voo em 1939. No entanto, uma figura menos conhecida, Andrew Jackson Higgins, também se destacou nesse cenário inovador.
Nascido em 28 de agosto de 1886, em Columbus, Nebraska, Higgins iniciou sua carreira como um empresário e construtor de barcos de sucesso. Durante a Segunda Guerra Mundial, ele se tornou proprietário de uma das maiores empresas de construção naval do mundo. Os barcos Higgins LCVP (Landing Craft Vehicle, Personnel) que sua empresa produziu desempenharam um papel crucial nos desembarques anfíbios do Dia D na Normandia, em junho de 1944, transportando soldados, veículos e equipamentos militares.
O presidente Dwight Eisenhower elogiou Higgins, dizendo: “Andrew Higgins é o homem que venceu a guerra para nós”. Os LCVPs de Higgins tiveram um impacto tão significativo que alteraram a estratégia de guerra.
Em 1942, Higgins fundou a Higgins Aircraft com a intenção de fabricar aeronaves para as Forças Armadas dos Estados Unidos. Seus planos incluíam a produção das aeronaves de transporte Curtiss-Wright C-76 Caravans e Curtiss C-46 Commando. No entanto, em agosto de 1944, os contratos com as Forças Armadas foram cancelados, e apenas algumas aeronaves foram concluídas.
Higgins estava ciente do trabalho pioneiro de Igor Sikorsky com helicópteros de dois lugares, como o VS-300 e o R-4, para as Forças Aéreas do Exército dos EUA atendiam a maioria dos critérios estabelecidos na época, seria uma competição “apertada”. Ele acreditava no futuro dos helicópteros na indústria da aviação e decidiu fazer parte desse desenvolvimento. Para isso, criou uma nova divisão, a Divisão de Helicópteros Higgins, e contratou Enea Bossi para projetar seu helicóptero.
Com o cancelamento dos contratos das aeronaves, Higgins concentrou todos os seus esforços na construção do protótipo do Helicóptero Higgins EB-1. Seu objetivo era vendê-lo para as Forças Armadas dos EUA. O EB-1 tinha um design semelhante ao R-4 da Sikorsky, com um rotor principal de quatro pás e um rotor de cauda de duas pás na extremidade da fuselagem. Movido por um motor radial Warner de sete cilindros e 180 cavalos de potência, o EB-1 tinha capacidade para dois passageiros lado a lado e um revestimento metálico cobrindo a cabine principal, enquanto a fuselagem traseira e a cauda eram cobertas de tecido.
Embora haja pouca documentação sobre os testes e voos do protótipo EB-1, sabe-se que o primeiro voo ocorreu em 1943. No entanto, apenas um exemplar foi construído. Outros testes resultaram em alterações na extremidade da fuselagem, inclinando o rotor de cauda para cima, dando à aeronave uma aparência que alguns compararam a um escorpião.
A velocidade de cruzeiro estimada do EB-1 era proxima de 200 km/h, e ele contava com uma unidade de roda livre para autorrotação em caso de falha do motor. No entanto, o desenvolvimento do EB-1 foi interrompido, e a aeronave nunca entrou em produção comercial ou militar.
Andrew Jackson Higgins faleceu em 1º de agosto de 1952, em Nova Orleans, sem ver seus sonhos pioneiros de helicópteros se realizarem. Embora seu trabalho com helicópteros seja menos conhecido do que sua contribuição para os barcos de desembarque da Segunda Guerra Mundial, ele permanecerá na história como um dos inovadores que moldaram os primeiros dias da aviação de asas rotativas no mundo. Sua dedicação à inovação e à indústria aeronáutica deixou uma marca indelével na história da aviação.